domingo, 27 de março de 2011

queria me perder em uma prosa só para ouvi-lo falar e gesticular o que ele mal mal entende. saudade dele em um tempo que nunca existiu. é uma saudade de momentos fantasiosos e delírios tão reais que, simplesmente, não aconteceram. eu só quero seu abraço. só quero uma música que, de tão perfeita, eu nunca tenha ouvido. e mais nenhum outro som, que não as batidas descompassadas dos corações que vibram indiscretos em ritmos iguais. ele me faz falta, sem nunca ter existido realmente. é uma passagem, alguns cortes secos e outras doces montagens.

sexta-feira, 18 de março de 2011

é como se eu só o enxergasse em preto e branco ou em sépia ou em um daqueles tons foscos de photos antigas do álbum encardido de família hippie. nasceu na época errada. e veio na época mais do que certa, para trazer toda a nostalgia de um tempo que não viveu para o seu agora. nasceu para me desencontrar nesse único encontro que é o tempo, esse tempo, o nosso tempo. que tempo?

segue tão descontextualizado da massa e tão perfeitamente certo para esse momento. tão incerto nos encaixes tortos da vida descompassada que andamos traçando. que traçamos desatentos, acreditando que o tempo, simplesmente, não existisse e jamais fosse nos ultrapassar. e nesse ultrapresente as esquinas erradas às vezes se encontram em um encontro-relâmpago, mudo, mas de uma luz que cega. e que parece nos cegar para que não nos coincidamos assim tão cedo de novo. para adiar, mais uma vez, o som, seja o vindo de dentro ou o que vai pra fora.

segunda-feira, 14 de março de 2011

agora é como se o sol tivesse mudado de lugar. ele já não te ilumina mais e, assim, também já não me aquece. mas, continua assim, soberano, atravessando raios errados pelas frestas da janela que fechei, que bati num estampido impensado, tão ensaiado na frente do espelho e premeditado ao longo de todas as madrugadas embriagadas que arriscamos na última estação. o calor ainda reverbera esquecido sozinho dentro desse corpo, que anda, para e corre e foge. e como foge. e vai longe, mas não sai do lugar.

é assim como foi e as palavras se calaram. tudo segue mudo, como quem tem medo de errar no que não tem certo ou errado. é como quem anda na ponta dos pés para não acordar aquilo que dorme em sono leve na cama ao lado. um sono leve que por mais que queira dormir pra sempre, espera, inconscientemente, que alguém o desperte e o acorde com um beijo. dizendo, quem sabe, que tudo foi apenas um sonho ruim ou, quem sabe, só mais um sonho de amor.